Por Alex Sander Alcântara
Agência FAPESP – Depois de viver um auge nos anos 1960 e 1970, a produção de vinhos no Estado de São Paulo despencou em duas décadas. Segundo dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA), órgão ligado à Secretaria do Estado de Agricultura e Abastecimento, as safras de 2004/2005 não ultrapassaram duas toneladas, um abismo se comparado ao patamar de 12 toneladas das safras de 1984/1985.
Aliado à queda de produção, São Paulo amargou também durante esse período a fama de não produzir vinho de qualidade. Para tentar mudar esse quadro, um estudo envolvendo pesquisadores de várias instituições realizou um amplo diagnóstico para elencar os principais problemas e potencialidades na cadeia de produção do vinho no Estado.
O projeto “Revitalização da cadeia vitivinícola paulista: competitividade, governança e sustentabilidade” teve apoio da FAPESP na modalidade Programa de Pesquisa em Políticas Públicas.
De acordo com Adriana Renata Verdi, pesquisadora do IEA e coordenadora do projeto, o estudo mapeou os quatro principais municípios paulistas produtores de uva e vinho: Jarinu, Jundiaí, São Miguel Arcanjo e São Roque. Além do censo vitivinícola, o projeto realizou avaliação microbiológica e química dos vinhos produzidos por pequenos vinicultores paulistas e desenvolveu avaliação do comportamento edafo-climático de doze variedades de uvas para vinho.
Dividido em três fases, com duração total de três anos, o projeto definiu, na primeira etapa, os elos básicos da cadeia produtiva, com identificação dos agentes envolvidos, formação de equipes, questionários e realização de workshop.
“A segunda fase – que foi a pesquisa propriamente dita e que durou dois anos – envolveu trabalho de campo para formar um banco de dados único. Para análise, utilizamos entrevistas e montamos um perfil por região. O início foi bem difícil porque cada instituição tinha um cadastro próprio, com números diferentes e defasados”, disse Adriana à Agência FAPESP .
O censo é o mais abrangente do gênero já realizado até hoje no Estado. Os pesquisadores identificaram 945 viticultores nos quatro municípios. Foram entrevistados 284 produtores de uva em Jundiaí, 61 em Jarinu e oito em São Roque. Em São Miguel do Arcanjo, onde há o maior número de produtores de uva, foram identificados 592.
“O município de São Miguel do Arcanjo e os municípios vizinhos de Pilar do Sul e Capão Bonito constituem uma região vinícola em expansão de grande potencial para o setor no Estado de São Paulo. O menor valor da terra serve como fator de estímulo para o deslocamento de muitos produtores de outros municípios paulistas, por exemplo, e de outros Estados. Muitos vêm do norte do Paraná”, contou.
“O que pudemos perceber é que o processo de especulação imobiliária, ou seja, o preço da terra, afastou e restringiu a permanência do produtor no campo”, disse a coordenadora.
Em muitos locais onde havia plantações, hoje estão instalados condomínios residenciais fechados, de médio e alto padrão. Esse processo de especulação imobiliária é destacado em São Roque, onde foram encontrados apenas oito produtores. Em Jundiaí, os pesquisadores esperavam encontrar perto de 600 produtores, mas registraram menos da metade (284).
O questionário permitiu fornecer informações para o reconhecimento dos demais elos da cadeia. “No caso da uva, temos insumos, embalagem e assistência técnica. E, no caso do vinho, embalagem, rótulo e equipamentos. O processo fecha com a comercialização, como para onde vai esse produto ou quais os canais utilizados. Estamos montando essa cadeia e analisando as informações”, explicou.
Outro dado diz respeito ao produtor, com o desenvolvimento de atividades não agrícolas, como a associação da uva e do vinho com o turismo. “Eles tentam aumentar a renda ao desenvolver o turismo rural como atividade complementar com visitação à área de uva, como à área do vinho. Mas é um turismo de um dia e a falta de infraestrutura tem atrapalhado o desenvolvimento dessa atividade”, disse.
Vinhos finos
Segundo a pesquisa, além do problema da mão de obra, da falta de assistência técnica e da informalidade do produtor, para a indústria do vinho outro ponto negativo é o ICMS mais elevado em relação ao de outros Estados produtores.
Em relação à estrutura fundiária, 50% dos entrevistados em Jundiaí têm propriedades de um a cinco hectares e 22% com até dez hectares, somando mais de 70% de pequenas propriedades. Já em São Miguel Arcanjo as propriedades com até cinco hectares chegam a 55% do total, enquanto cerca de 20% tem até dez hectares, resultando no total de 75% de pequenas propriedades.
De acordo com a coordenadora, o censo também permitiu conhecer as variedades cultivadas de uva e as empregadas pelos produtores de vinho. O censo verificou que o foco nos municípios estudados é a uva de mesa (niágara, itália ou rubi). Cerca de 35% do vinho produzido em São Paulo vem da niágara.
“Existem também três tipos de produtor: aquele que produz vinho com uvas próprias, o que produz com uvas do Sul do país e aquele que faz só o envasamento”, disse Adriana.
A pesquisadora do IEA conta que o consumo de vinhos populares representa 85% do mercado nacional e que 60% desse mercado está na Grande São Paulo. Outro ponto importante é que 15% do mercado nacional é de vinho fino, onde São Paulo é mais consumidor do que produtor.
O projeto reuniu 29 pesquisadores da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), além de técnicos de casas de agricultura e prefeituras, entre outras entidades. Feito o diagnóstico, a terceira fase do projeto será pôr em prática as análises e os encaminhamentos.
segunda-feira, 8 de março de 2010
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