Uma cozinha em lume brando, com temperos de apurado gosto que a tornam intemporal, numa casa de petiscos que tem nome de adega e um passeio até à Senhora do Verde. Eis a sugestão da semana.
Como todas as escolhas, esta tem o seu grau de subjectividade, mas fica a certeza de ela ser partilhada pelo historiador e gastrónomo Renato Costa, que a publicou no livro “Em lume Brando – Viagem ao pequeno mundo dos melhores restaurantes tradicionais algarvios”, escrito em parceria com a jornalista Dina Adão e editado pela editora Caleidoscópio,
Um guia essencial para saber onde encontrar a gastronomia que Renato Costa não gosta de chamar regional ou tradicional, mas sim intemporal, porque as receitas passam de mão em mão e de geração em geração.
Mas porque a Adega Vila Lisa só serve jantares e para evitar as enchentes do litoral, dê-se um passeio até à Villa Romana de Abicada, na confluência das ribeiras do Farelo com a da Senhora do Verde, no Lugar da Figueira, a que se acede por um ramal da EN. 125, na Mexilhoeira Grande.
Localizada num pequeno terraço sobranceiro à Ria de Alvor, em condições ambientais privilegiadas, as ruínas visíveis permitem concluir que teria sido uma villa maritima, possivelmente edificada nos séculos III-IV d.C., na altura com acesso directo à ria, então navegável.
Vislumbram-se várias salas e peristilo, revestidos com mosaicos coloridos de formas geométricas e desenhos estilizados.
Mesmo que não se seja apreciador de “antiguidades” a paisagem compensa pelos esteiros da Ria defronte.
De casa de petiscos a restaurante mítico
De casa de petiscos, para acompanhar tertúlias de amigos, a restaurante mítico, a Adega Vila Lisa deve muito do que é ao Vila, pintor de vocação e cozinheiro de tachos e forno. Só cozinha o que lhe apetece, seguindo o gosto das receitas de tacho e dos assados.
A adega pouco se modificou ao longo dos anos, ali estão as mesas corridas de madeira, e quanto aos jantares, que almoços não há, são quatro pratos, mostra de sabores, estilo agora tão na moda nas provas gourmet, sem direito a escolhas por parte de quem se rende à arte de Vila e ao saber servir de Lisa.
A refeição pode começar por uma entrada de queijinho de Maio, mais os enchidos acompanhados de batata cozida temperada de azeite, seguindo-se talvez a canja de lingueirão ou conquilhas.
Logo surgem os carapaus alimados hoje, a raia alhada amanhã, o xerém no outro dia que há-de vir, seguidos do pernil de porco assado no forno a perna de borrego com favas e perfume de hortelã, sendo o grand finale um cozido montanheiro simplificado, a saber, a sopa de rabo de boi com grão e abóbora.
Terminem-se os quatro ou cinco pratos fixos (não se escolhe e provam-se obrigatoriamente todos) com os queijinhos de figo, flambeados em aguardente de medronho, acompanhados pela dita em cálice minúsculo e café de cafeteira.
Dos vinhos, diga-se que são servidos a jarro, ainda que alguns tintos engarrafados de boa cepa possam ser opção. A regra, para todos sem excepção é entrar, sentar e comer o que é servido, mesmo que por vezes ali parem caras conhecidas a nível nacional e internacional.
Marcar mesa é indispensável e não se aceitam cartões.
Adega Vila Lisa | Mexilhoeira Grande, R. Francisco Bívar, nº 52 | TEL 282968478 | Todos os dias das 20h00 às 01h00 (Nos meses de Julho, Agosto e Setembro) Menu do degustação a 35 Euros (preço médio).
Conceição Branco
quinta-feira, 15 de julho de 2010
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